Para contornar essa situação, ele compartilhou o seu sonho com um oficial, prometendo-lhe metade do ganho se ele o deixasse cavar um buraco. A resposta do soldado foi ríspida: ‘‘Apenas tolos podem acreditar em sonhos assim, eu mesmo sonhei várias vezes que na cidade de Cracóvia existia um tesouro escondido no forno do pobre judeu Isaac Jakubowicz. Você acha que sou tolo o suficiente para percorrer todo o caminho até Cracóvia e procurar a casa desse Isaac, filho de Jacó?”. Diante dessa resposta provocativa, Isaac retornou imediatamente a Cracóvia, desmontou seu modesto forno e, para sua surpresa, encontrou o tão almejado tesouro.

Atuando como consultor para empresas em crise, não é incomum deparar-me com situações em que o empresário busca por uma solução milagrosa. Acuado por fornecedores e bancos, sentindo-se pressionado para pagar suas dívidas e tendo o seu patrimônio ameaçado, o empresário está prestes a sucumbir ao canto da sereia.

Em um ato de desespero, este opta por recorrer a qualquer ajuda “externa” mirabolante que acredita ser promissora, como um investidor europeu, um fundo de investimento no oriente médio, um concorrente, etc. Todos esses “oportunistas” veem muito mais valor no seu negócio do que a realidade que revelam as demonstrações contábeis. Infelizmente, a triste realidade demonstra que no mercado de insolvência há mais “franco-atiradores” buscando deals a preço de banana do que corretores que possuem conexões reais com compradores. Não seria tão dramático se para aqueles que enfrentam uma crise de liquidez, o tempo perdido é muito caro, pois ele aumenta os débitos que acumulam juros e multa, ao mesmo tempo que perdem o crédito com os seus stakeholders (credores, funcionários e clientes) pela falta de uma resolução.

Às vezes, o remédio milagroso procurado não é um investidor; às vezes, é um novo produto ou um novo segmento de atuação. Parece paradoxal, mas empresários que vivem em uma situação de crise demonstram ter uma tendência maior a se arriscar do que empresários em situação estável. É como se a pessoa tivesse perdido tudo e tentasse a última jogada de pôquer.

O que eu vejo na vivência de casos concretos de recuperação de empresas é que se reerguem, aquelas que buscam a solução dentro de si, tipicamente, empresas que se concentram no seu core business, que aperfeiçoam o seu modelo de negócio, que otimizam o seu processo produtivo, que aprimoram a exatidão de suas informações contábeis e gerenciais. Ou seja, a mudança não precisa ser necessariamente estrutural, ela precisa ser estruturante.

Neste sentido, o que nos mostra a moral da lenda de Isaac Jakubowicz é que você pode procurar soluções correndo para todos os lugares e finalmente as encontrará dentro de casa. Antes de entendê-las, talvez tenha que percorrer uma longa jornada.

Ronny Blum é Head de Recuperação Judicial na Corporate Consulting – Consultoria em Reestruturação Empresarial.